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O QUE É O SUICÍDIO E COMO LIDAR COM ESSE TEMA?

  • Foto do escritor: Psicóloga Leatrice Alves
    Psicóloga Leatrice Alves
  • 13 de set.
  • 8 min de leitura

Informar-se acerca do tema e falar sobre ele ainda são as melhores formas de prevenir, acolher e ajudar aqueles impactados pelo suicídio.


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é “o estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de fazer contribuições à sua comunidade” (OMS, 2016).

Fonte: © Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: © Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mesmo que essa situação esteja mudando, ainda existem muitos receios acerca do adoecimento mental. Some-se a isso a dificuldade de realizar os diagnósticos, uma vez que não é possível contar com recursos como os diagnósticos clínicos ou de imagem, e é possível perceber porque a promoção em saúde mental se depara com dificuldades que não atingem a promoção da saúde física.


A incidência de doenças psiquiátricas vem aumentando em todo o mundo e este fenômeno é percebido em todas as faixas etárias, inclusive entre crianças e adolescentes. Além das doenças mentais, a prevalência de tentativas de suicídio e suicídio também estão aumentando. Não é possível prever quem irá se matar ou não, por isso precisamos sempre fazer o melhor possível para acolher aqueles que nos procuram.


Apesar dos avanços percebidos nos últimos anos ao se falar sobre saúde mental, o suicídio ainda é um assunto tratado como tabu e cercado por mitos e estigmas. A visão sobre o tema atualmente ainda é influenciada, principalmente, por questões religiosas, uma vez que, entre as religiões com o maior número de adeptos, o cristianismo e o islamismo, o suicídio é visto como um ato abominável, comparado ao homicídio. Em outras culturas é visto como um ato desonroso, que pode levar ao ostracismo social da família de quem cometeu o ato. Durante séculos a própria mídia evitou abordar a temática com medo do efeito de contaminação (efeito Werther), o que contribuiu para silenciar o tema e aumentar o tabu e, embora o estigma esteja diminuindo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido.


O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. Também fazem parte do que habitualmente chamamos de comportamento suicida: os pensamentos, os planos e a tentativa de suicídio (ABP; CFM, 2014).


Dificilmente é possível apontar uma causa única quando alguém tenta cometer ou comete suicídio, uma vez que o ato é influenciado por fatores de caráter pessoal e familiar, culturais, religiosos, políticos e econômicos combinados. Dito isso, é possível destacar alguns elementos de risco para a sua realização:


  • Tentativas anteriores de suicídio (isoladamente, é o principal fator de risco).

  • Transtornos e doenças mentais (muitas vezes não diagnosticadas, frequentemente não tratadas ou tratadas de forma inadequada; principalmente a depressão, o transtorno bipolar, a dependência de álcool e outras drogas e a esquizofrenia).

  • Disponibilidade e acesso a meios letais.

  • Questões situacionais (término de relacionamentos, desemprego, morte de pessoas queridas, doenças, pressão por desempenho…).

  • Idade (jovens em países menos desenvolvidos e idosos nos países mais desenvolvidos).

  • Ser homem (mulheres cometem mais tentativas, mas homens tendem a ter mais sucesso).

  • Automutilação.

  • Histórico de abuso emocional e sexual e negligência emocional.

  • Genética (predisposição que pode ser potencializada ou amenizada pelos fatores ambientais, como história familiar, gênero, situação econômica, inclinação ao pessimismo e desesperança, uso abusivo de drogas e álcool, doenças graves ou incapacitantes).

  • Alta recente de internação psiquiátrica

  • Doenças incapacitantes

  • Impulsividade/Agressividade

  • Isolamento Social

  • Suicídio na família

  • Sentimentos de desesperança, desespero e desamparo.


Não é fácil identificar os sinais de que uma pessoa pensa em se matar. Muitas vezes, essa intenção não é exposta de forma evidente em grandes gestos, mas, sim, na soma de vários gestos menores que devem ser analisados em conjunto. Portanto, mais do que procurar pelo comportamento suicida em si, é importante estar atento para mudanças no comportamento que podem passar despercebidas, como alterações no apetite, nos padrões de sono, no rendimento escolar e o uso de drogas lícitas ou ilícitas e de álcool, uma vez que este uso pode indicar dificuldades para lidar com alguma situação. Entretanto, alguns sinais exigem mais atenção, como dizer que vida não faz mais sentido, não vale a pena, que seria melhor sumir… Caso a pessoa da qual se suspeita que esteja pensando em suicídio se ferir ou cometer uma tentativa, deve-se buscar intervenção urgente.


Dito isto, a pessoa pode adotar algumas atitudes diretas ou indiretas e emitir comportamentos verbais diretos e indiretos que podem ser sinais de comportamento suicida.


Atitudes diretas:


  • Tentativas de suicídio anteriores

  • Mudanças repentinas de comportamento

  • Ameaça de suicídio ou expressão/verbalização de intenso desejo de morrer

  • Ter um planejamento para o suicídio

  • Sinais observáveis de depressão

  • Oscilação de humor

  • Pessimismo

  • Desesperança

  • Desespero

  • Ansiedade, dor psíquica, estresse acentuado

  • Problemas associados ao sono (excessivo ou insônia)

  • Intensa raiva

  • Desejo de vingança

  • Sensação de estar preso e sem saída

  • Isolamento da família, amigos, eventos sociais

  • Mudanças dramáticas de humor

  • Falta de sentido para viver

  • Aumento do uso de álcool e/ou outras drogas

  • Impulsividade e interesse por situações de risco


Atitudes indiretas:


  • Desfazer-se de objetos importantes

  • Conclusão de assuntos pendentes

  • Fazer um testamento

  • Despedir-se de parentes e amigos

  • Casos extremos de irritabilidade, culpa e choro

  • Fazer carteira de doação de órgãos

  • Comprar armas, estocar comprimidos

  • Fazer seguro de vida

  • Colocar coisas em ordem

  • Súbito interesse ou desinteresse em religião

  • Fechar a conta corrente


Comportamentos verbais diretos


  • “Eu quero morrer”

  • “Gostaria de estar morto”

  • “Vou me matar”

  • “Se isso acontecer novamente, prefiro estar morto”

  • “A morte poderá resolver essa situação.”

  • “Se ele não me aceitar de volta, eu me matarei”

  • “Quero sumir. Não aguento mais! Só morrendo mesmo para aguentar.”


Comportamentos verbais indiretos


  • “Se isso acontecer novamente, acabarei com tudo”

  • “Eu não consigo aguentar mais isso”

  • “Você sentirá saudades quando eu partir”

  • “Não estarei aqui quando você voltar”

  • “Estou cansado da vida, não quero continuar”

  • “Tudo ficará melhor depois da minha partida”

  • “Não sou mais quem eu era”

  • “Logo você não precisará mais se preocupar comigo”

  • “Ninguém mais precisa de mim”

  • “Eu sou mesmo um fracassado e inútil. Tudo seria melhor sem mim.”


QUAIS SÃO AS MODALIDADES DE ATENDIMENTO PARA O SUICÍDIO?


Quando se fala em suicídio, existem três medidas de atendimento:


1. A prevenção: promoção de ações que evitem o suicídio, entre as quais as mais eficazes são falar sobre suicídio, informando a população sobre sinais, fatores de risco e tratamento e impedir o acesso fácil a métodos de suicídio (veneno, medicamentos, armas de fogo, corda, etc.) e criar barreiras em pontes ou prédios que se tornaram locais de referência para a prática.

  • Tipos de prevenção:

    • identificar os fatores de risco de suicídio;

    • encontrar os indivíduos em risco de suicídio e agir de forma precoce; - realizar tratamentos em pessoas que já tentaram ou cogitaram seriamente o suicídio.


2. A posvenção: apoio aos enlutados de um suicídio


3. A emergência: atendimento imediato nos casos de tentativa de suicídio

  • 193 – Bombeiros;

  • 192 – SAMU;

  • 190 – Polícia Militar


FATORES DE PROTEÇÃO


Da mesma forma que algumas condições podem ser consideradas fatores de risco para o suicídio, outras podem ser consideradas fatores de proteção, entre as quais destacam-se:


  • Ausência de doença mental.

  • Boa autoestima.

  • Bom suporte familiar.

  • Capacidade de adaptação positiva.

  • Capacidade de resolução de problemas.

  • Estar empregado.

  • Realização de pré-natal.

  • Laços sociais bem estabelecidos com amigos e familiares.

  • Relação terapêutica positiva.

  • Frequência a atividades religiosas e espirituais.

  • Ter sentido existencial.

  • Senso de responsabilidade com a família;


COMO ACOLHER UMA PESSOA COM IDEAÇÃO SUICIDA?


Em primeiro lugar, busque informações a respeito do suicídio e de suas causas, em fontes confiáveis. Assim, você sentirá mais segurança para lidar com o tema e evitará a sensação de alarme quando alguém lhe procurar.


  • Mantenha a calma e tente entender melhor o que é essa vontade de se matar, pergunte se é constante, frequente ou ocasional

  • Pergunte se a pessoa já pensou em como realizar o ato

  • Não confronte a pessoa de forma brusca

  • Se for uma ideação ocasional, causada por uma dor profunda, por uma depressão ou outro motivo, encaminhe para um psicólogo

  • Se for um desejo mais concreto e frequente, com planos detalhados, encaminhe para um atendimento psiquiátrico.

  • Caso a pessoa indique a intenção de cometer suicídio naquele dia ou nos próximos, acompanhe-a até um pronto-socorro. Ela não deve ser deixada sozinha. Nem todos os pronto-socorros contam com atendimento psiquiátrico, por este motivo, pesquise de antemão em quais estabelecimentos da sua localidade esse atendimento está disponível.

  • Faça perguntas diretas e específicas

  • Mostre a pessoa que você está preocupada com o bem-estar dela e quer ajudá-la da melhor maneira possível a superar a dificuldade.

  • Acolha a pessoa e evite julgamentos morais, baseados em tabus e preconceitos. Lembre-se que provavelmente foi difícil para ela criar a coragem necessária para falar e que ser mal recebida pode fazer com que ela se feche

  • Procure compreender a situação e os sentimentos que ela pode estar sentindo

  • Evite o uso de frases do senso comum


Lembre-se, se a pessoa te procurou é porque tem confiança em você. Porém, pode ser necessário recorrer a ajuda de terceiros para melhor auxiliar a pessoa, por isso, não guarde segredo, mesmo que a pessoa lhe peça.


COMO ACOLHER UMA PESSOA ENLUTADA PELO SUICÍDIO?


Para cada suicídio, de cinco a dez pessoas, entre familiares e amigos, são afetadas de forma social, emocional e econômica. São os chamados sobreviventes, pessoas significativamente impactadas pelo suicídio. Por ainda ser um tema tabu na sociedade, os enlutados pelo suicídio podem ter sentimentos de culpa, raiva, vergonha, solidão, impotência, medo e ansiedade. Além disso, os familiares podem se reunir em um pacto de silêncio que contribui para aumentar a exclusão social e o sofrimento e as pessoas ao redor podem não saber como reagir e lidar com esse tipo de morte.


Por esses motivos, as atitudes a seguir podem ser úteis para quem quer apoiar uma pessoa enlutada pelo suicídio mas não sabe como:


  • Coloque-se à disposição do outro e acolha os sentimentos contraditórios, sem cobranças ou julgamentos, evitando o uso de frases do senso comum.

  • O uso de frases do tipo: “Obrigada pela sua confiança”, “Eu me interesso pelo que você está dizendo”, “Eu quero te ouvir e estou aqui pelo tempo que você precisar”, “Eu não posso imaginar pelo que você está passando, mas estou aqui por você”, “A culpa não é sua”, “O que você gostaria de fazer agora?”, ajudam quem conta a reconhecer que o que está sendo contado tem valor para quem ouve e reforçam o senso de conexão

  • Ofereça ajuda de maneira objetiva: limpar a casa, cuidar de crianças, fazer comida…

  • Oriente a pessoa a procurar ajuda especializada, caso necessário.

  • Indique que a pessoa faça parte de um grupo de enlutados por suicídio (dois desses grupos podem ser visualizados nos seguintes links: LINK 1, LINK 2).


O QUE FAZER CASO UMA PESSOA PRÓXIMA A MIM TENHA TIRADO A PRÓPRIA VIDA?


Quando alguém próximo se suicida, o impacto emocional costuma ser muito grande. São chamados de sobreviventes enlutados pelo suicídio e merecem especial atenção, pois passam a fazer parte de um grupo de risco de suicídio, especialmente ocasionado pela sensação de culpa. Algumas dicas, seja você familiar, professor, amigo ou conhecido da vítima, são:


  • Sempre procure ajuda especializada (de preferência médica e/ou psicológica)

  • Fale sobre o assunto com pessoas de sua confiança, grupos de apoio especializados ou entidades como o CVV

  • Não se culpe e não tente encontrar culpados

  • Não sinta vergonha pelo ocorrido. Lembre-se que isso é mais comum do que se divulga e essa pessoa encontrou na morte a solução definitiva para um sofrimento muito intenso

  • Não tente resgatar os sinais dados pela pessoa que se matou. Aceite o fato e aprenda a viver com a nova situação


CVV - CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA


Fundado em São Paulo, em 1962 “é um serviço voluntário gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.” (CVV, 2024)


É uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, que é reconhecida como de Utilidade Pública Federal desde 1973.


Participou da força-tarefa que elaborou a Política Nacional de Prevenção do Suicídio, do Ministério da Saúde, com quem mantém, desde 2015, um acordo de cooperação que permitiu a implantação do 188, linha nacional gratuita de prevenção do suicídio.


Além dos atendimentos, o CVV desenvolve, em todo o país, outras atividades relacionadas à prevenção do suicídio, com ações abertas à comunidade que estimulam o autoconhecimento e a melhor convivência em grupo e consigo mesmo.


A instituição também mantém o Hospital Francisca Júlia, que atende pessoas com transtornos mentais e dependência química em São José dos Campos (SP).


Atendimentos:

  • Telefone 188 (24 horas e sem custo de ligação).

  • Chat (https://cvv.org.br/chat/) - conferir horários de funcionamento.

  • E-mail (https://cvv.org.br/e-mail/ ou apoioemocional@cvv.org.br).

  • Pessoalmente (em algumas localidades).


REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Campanha. Disponível em: https://www.setembroamarelo.com/

CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA. Quem somos. Disponível em: https://cvv.org.br/o-cvv/

CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA. Identificando fatores de risco para o suicídio. https://cvv.org.br/identificando-fatores-de-risco-para-o-suicidio/

NEURY JOSÉ BOTEGA. Crise Suicida. 2022. Artmed.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Saúde mental depende de bem-estar físico e social. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/74566-sa%C3%BAde-mental-depende-de-bem-estar-f%C3%ADsico-e-social-diz-oms-em-dia-mundial

© 2025 por Psicóloga Leatrice Alves

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